A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, afirmou neste sábado (5) que o mercado financeiro internacional está se diversificando, com mais países realizando transações comerciais em moedas locais. No entanto, segundo ela, isso não significa uma desdolarização da economia global.
>>mais notícias: Economia
A declaração foi feita durante entrevista coletiva no encerramento da 10ª Reunião Anual do NDB, realizada no âmbito da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. Dilma respondeu a perguntas sobre a possibilidade de os países do bloco substituírem o dólar como moeda base do comércio internacional.
“Claramente, não há nenhum sinal de desdolarização, não vejo. O que eu vejo é outra coisa, muitos países estão usando suas próprias moedas para o comércio”, afirmou.
“Não há ninguém querendo substituir os EUA”, diz Dilma
Segundo a ex-presidente do Brasil, “hoje não tem ninguém querendo assumir o lugar dos Estados Unidos”. Ela reforçou que a mudança na forma como os países negociam não parte de uma imposição política, mas de movimentos do mercado internacional.
“Quem decide isso não é nenhum investidor externo, é o mercado. Quem está fazendo algumas movimentações é o mercado, é o mercado financeiro internacional. E, até onde eu saiba, o mercado financeiro internacional continua dolarizado”, completou.
As discussões sobre o tema ganharam destaque após críticas do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçou taxar em 100% as importações de países do Brics que abandonassem o uso do dólar.
>>Acompanhe o ABC Agora pelo nosso canal no WhatsApp. CLIQUE AQUI
Banco do Brics aprova entrada de novos países
Dilma anunciou também que o Conselho de Governadores do NDB aprovou a entrada de dois novos membros: Colômbia e Uzbequistão. Com isso, o banco passa a ter 11 países-membros, incluindo:
- Brasil
- Rússia
- Índia
- China
- África do Sul
- Emirados Árabes Unidos
- Egito
- Bangladesh
- Argélia
- Uzbequistão
- Colômbia
Criado em 2015, o NDB tem como foco o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países emergentes.
Investimentos e prioridades do banco
Desde sua criação, o NDB aprovou 122 projetos, totalizando cerca de US$ 40 bilhões. Apenas para o Brasil, foram 29 projetos aprovados, somando US$ 7 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões já foram desembolsados, o que representa 18% do total.
Entre as prioridades atuais do banco estão os investimentos em inovação, ciência e tecnologia.
“É impossível não ter uma industrialização de qualidade que não signifique a adoção de ciência e tecnologia”, disse Dilma.
Ela destacou que os países membros precisam se tornar produtores de tecnologia, como inteligência artificial, e não apenas consumidores de soluções desenvolvidas por potências como Estados Unidos e União Europeia.
Armazenar vento e sol: Dilma defende energia renovável
A presidente do NDB também ressaltou a importância dos investimentos em energias renováveis, como solar e eólica. Ela relembrou a polêmica declaração feita enquanto era presidente do Brasil, sobre a necessidade de “estocar ventos e Sol”.
“Pois muito bem, saibam vocês que essa é uma das áreas mais importantes na área de energia”, declarou. Segundo Dilma, o armazenamento de energia será fundamental para a transição energética e para evitar apagões, como os ocorridos recentemente em países europeus.
Brics e cenário global
O Brics reúne atualmente 11 países-membros permanentes, entre eles Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. A 17ª Cúpula do Brics ocorre nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, sob presidência brasileira.
Esses países representam:
- 39% da economia mundial
- 48,5% da população global
- 23% do comércio internacional
Em 2024, os países do Brics foram responsáveis por 36% das exportações brasileiras e por 34% das importações realizadas pelo Brasil.
_________
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil