“São dez anos aprendendo e crescendo junto com a macadâmia”, conta Ellis Fernanda Fassina, de 27 anos, que trabalha com a noz — originária da Austrália e que encontrou no Brasil um terreno fértil para sua produção — em Bocaina, na região de Bauru, no interior paulista. O primeiro emprego da jovem era com barrinhas de cereais, que tinham a oleaginosa como ingrediente, e depois passou a cuidar da seleção das nozes, de forma manual.
O trabalho, quase artesanal, era separar a casca da amêndoa, o que levava um dia inteiro para limpar poucos quilos com qualidade. Essa realidade mudou a partir da chegada da seletora digital óptica, uma das máquinas compradas com o fomento do programa SP Produz, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que reconheceu a Cadeia Produtiva Local (CPL) da Macadâmia Tropical, gerida pela Associação dos Produtores Rurais do Vale do Rio Jacaré Pepira (Aprojape).
“Com a nova máquina, o que antes rendia de 30 a 50 quilos por dia, agora pode alcançar até 200 quilos por hora, se quisermos. Mudou completamente a nossa capacidade operacional de processamento da macadâmia”, afirma Edinho Montenegro, presidente da Aprojape.
“O serviço ficou mais leve e rápido”, diz Ellis, que hoje atua como gerente de produção e usa as mãos para operar a máquina com inteligência artificial, identificando nuances de tonalidades e defeitos nos frutos secos com precisão. “É gratificante, dá uma sensação boa ver o trabalho render com menor desgaste físico. Me sinto parte de algo que vai para muitas famílias”, afirma.
Outro avanço provocado pelo fomento foi a compra de um container refrigerado. “Antes, precisávamos vender a macadâmia logo após o processamento. Agora, conseguimos ampliar a validade dela em mais de um ano, o que dá mais segurança na conservação e a preserva com qualidade”, cita o presidente da associação.
O Estado de São Paulo é o maior produtor nacional de macadâmia, responsável por cerca de 40% do total produzido no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC). A predominância paulista na cultura reforça a importância de políticas públicas como o SP Produz para modernizar e ampliar a capacidade produtiva da cadeia.
A CPL da Macadâmia Tropical recebeu recursos do edital 2024 do SP Produz. “O programa é uma oportunidade de conectar os elos produtivos de um setor, da matéria-prima à comercialização, criando um ambiente de cooperação, inovação e ganho de escala, com benefícios para todos os envolvidos. Qualquer setor que possa ser fomentado, estruturado e apoiado pelo Governo do Estado pode buscar esse reconhecimento como cadeia produtiva local”, afirma Júlia da Motta, subsecretária de Competitividade e Desenvolvimento Econômico e Regional da SDE.
A CPL da Macadâmia Tropical atua prioritariamente em 14 municípios do Vale, localizados nas regiões administrativas de Bauru, Central e Campinas. Com mais de 50 associados, a cadeia traz benefícios a todos os membros, como melhoria da qualidade do produto e a redução de custos com o uso compartilhado de maquinários.
“A gestão compartilhada dos equipamentos entre os produtores facilita o acesso a tecnologias que, individualmente, seriam difíceis de adquirir, além de promover a troca de conhecimento e a profissionalização da cadeia”, afirma Ellis.
Produtos feitos com a macadâmia
A noz possui alto valor nutricional e versatilidade para se transformar em diversos produtos, como pães, sorvetes e queijos. Na CPL, há produtores que cultivam macadâmia certificada como orgânica, livre de insumos químicos, o que atrai compradores que veem valor para desenvolver seus próprios produtos orgânicos.
É o caso de Toco Cazzoli, chef de cozinha em Jaú, que destaca o uso da noz nos pratos de seu restaurante. “Usamos no pesto de manjericão, pois a quantidade de gordura da castanha ajuda muito na preparação, além da farofa de macadâmia que utilizamos para finalizar entradas, pratos e sobremesas”, conta.
Já Victor José, produtor de queijo autoral feito com massa láctea, fermento kefir e macadâmia de Ribeirão Bonito, compra a oleaginosa da CPL da Macadâmia e destaca que o queijo foi criado para valorizar a produção local. “A ideia do queijo surgiu como uma forma de valorizar o que a gente tem por aqui, unir tradições e ingredientes da nossa própria região”, explica.
Sobre o SP Produz
Lançado em junho de 2024, o programa SP Produz tem como objetivo fortalecer as cadeias produtivas locais de São Paulo, estimulando a auto-organização de aglomerações produtivas setoriais e promovendo o desenvolvimento econômico regional. No primeiro edital, foram 95 CLP’s, reconhecidas dividas em quatro graus de maturidade: Aglomerado Produtivo, CPL em Desenvolvimento, CPL Consolidada e CPL Madura. Este ano, um novo edital de reconhecimento de cadeias está em andamento.
Sobre o SP Produz
Lançado em junho de 2024, o programa SP Produz tem como objetivo fortalecer as cadeias produtivas locais de São Paulo, estimulando a auto-organização de aglomerações produtivas setoriais e promovendo o desenvolvimento econômico regional. No primeiro edital, foram 95 CLPs reconhecidas divididas em quatro graus de maturidade: Aglomerado Produtivo, CPL em Desenvolvimento, CPL Consolidada e CPL Madura. Este ano, um novo edital de reconhecimento de cadeias está em andamento.