Segundo o Ministério do Trabalho, em 2023, mais de 545 mil pessoas com deficiência estavam empregadas formalmente no Brasil, um número que, embora significativo, ainda está aquém do potencial do grupo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que o país tem 17,5 milhões de pessoas com deficiência em idade economicamente ativa. Isso significa que para cada 10 pessoas com deficiência a partir dos 15 anos, apenas 2,9 estão no mercado de trabalho.
Entre os desafios enfrentados pelo grupo estão a falta de acessibilidade nos ambientes corporativos, preconceitos e a escassez de programas de capacitação específicos. Além disso, muitas empresas ainda veem a contratação de pessoas com deficiência como uma obrigação legal, e não como uma oportunidade de enriquecer a diversidade e a inovação em suas equipes. Flávia Cortinovis, é parceira do Instituto Serendipidade (entidade que dá apoio a pessoas com deficiência e suas famílias) e trabalha há 12 anos com empregabilidade de pessoas com deficiência, em uma frente chamada de emprego apoiado. Essa ocupação funciona como mediadora de todos os agentes que fazem parte da vida da pessoa com deficiência (família, amigos, médicos, terapeutas e rede de apoio) e a empresa que tem uma vaga que pode ser ocupada por esse candidato, considerando todos os aspectos para que essa efetivação seja realmente inclusiva. Além disso, o acompanhamento continua após a efetivação da vaga, para que todas as adaptações, tanto do colaborador quanto da empresa, sejam atendidas.
Para ela, o emprego apoiado ainda está muito incipiente como uma estratégia de equidade para inclusão laboral da pessoa com deficiência. “As empresas ainda enxergam como custo e não como um investimento para que a diversidade presente na organização possa de fato ter um olhar específico para o desenvolvimento de carreira daquela pessoa e como contribuição efetiva com a cultura organizacional. É preciso fazer ainda uma longa caminhada para que as empresas entendam o tamanho diferencial que é fazer uma inclusão efetiva, não visando apenas cotas, mas com real intenção de identificar e explorar as potencialidades de cada candidato com deficiência. Então, os profissionais do emprego apoiado têm esse grande desafio de mostrar que uma inclusão bem amparada traz benefícios para a cultura organizacional e para os resultados da empresa”, relata.
Marina Borges Rossi tem 19 anos e foi uma das candidatas que passou pelo processo de emprego apoiado para ser efetivada em uma grande empresa farmacêutica. No emprego há seis meses, ela conta que a metodologia fez toda a diferença para que ela pudesse ter sucesso no início da sua carreira profissional. “Gostei do acompanhamento da Flávia, me senti segura com ela.Eu adoro meu trabalho, as pessoas, a rotina, o que faço. Me sinto valorizada lá”, opina a jovem.
A mãe da jovem, Maria Fernanda Borges Rossi, comemora o desempenho profissional da filha. “O que mais me chamou a atenção no processo de emprego apoiado foi um cuidado, um olhar específico para a circunstância, tentar não fazer de modo automatizado porque quando a gente só faz o processo de absorção de inserção de uma pessoa com alguma necessidade especial, seja qual for, a gente não olha para as necessidades específicas e acaba também generalizando as necessidades como se fossem as mesmas para todos. Nesse sentido, a construção de quais seriam as necessidades da Marina foi determinante para a adaptação dela ao mercado e da empresa para explorar as potencialidades dela”, comenta.
Na empresa, a atuação da Marina na área de marketing tem contribuído muito além da diversidade. Segundo Patrícia Franco, diretora de RH & Adm da corporação e que acaba de ser reconhecida com o Prêmio Inspire de Diversidade, Igualdade e Inclusão pela matriz da empresa, “a presença da Marina tem ampliado o olhar da equipe para o respeito às diferenças, promovendo um ambiente mais empático, colaborativo e humano. A metodologia do emprego apoiado foi essencial para que esse processo acontecesse de forma estruturada, respeitando o tempo e as habilidades dela”, afirma , ressaltando que a experiência tem demonstrado que a inclusão de pessoas atípicas agrega valor real às organizações, impactando positivamente tanto nos resultados quanto na cultura interna.
Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer para que a inclusão seja plena. A conscientização, o cumprimento rigoroso da legislação e o investimento em acessibilidade e capacitação são passos fundamentais para transformar o mercado de trabalho em um espaço verdadeiramente inclusivo. “Somente quando as companhias enxergarem a inclusão como um valor essencial, de escala para a produtividade e melhora de clima organizacional, para além da obrigação dentro do ambiente corporativo, é que conseguiremos construir um mercado de trabalho que reflita verdadeiramente a diversidade. É gigante o potencial desta real integração entre pessoas diversas, com e sem deficiência, obesas, idosas, homossexuais, neurodivergentes, entre outras características, que tornam cada colaborador único na construção de um ambiente de trabalho mais equitativo e inovador, fortalecendo valores humanos”, reforça Débora Goldzveig, gerente Institucional do Instituto Serendipidade.
Sobre o Instituto Serendipidade
O Instituto Serendipidade é uma organização sem fins lucrativos que potencializa a inclusão de pessoas com deficiência, com propósito de transformar a sociedade através da inclusão. Visa ser impulsor de impacto social relevante, colaborativo e inovador, sempre prezando pela representatividade, protagonismo, de forma transversal e acima de tudo, com muito respeito. As iniciativas que atendem diretamente o público são: Programa de Iniciação Esportiva para crianças com síndrome de Down e deficiência intelectual, de famílias de baixa renda; Programa de Envelhecimento que atende mais de 60 idosos com algum tipo de deficiência intelectual para promoção do bem-estar; e o Projeto Laços, que acolhe famílias que recebem a notícia de que seu filho (a) tem algum tipo de deficiência. Atualmente, o Serendipidade impacta mais de um milhão de pessoas, criando pontes, gerando valor em prol da inclusão e através do atendimento direto a pessoas com deficiência intelectual e suas famílias.
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