Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o papel da população negra no cenário econômico de São Paulo recebe atenção especial. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 40% dos empreendedores paulistas são negros, um número que sublinha a força e a representatividade desse grupo na economia do estado. Dentro desse contexto, o artesanato emerge como um setor vital, onde muitos transformam a arte manual em fonte de renda.
Essa ascensão no setor artesanal está sendo impulsionada por iniciativas como o programa Empreendedor Artesão, recém-lançado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Estado de São Paulo.
Artesanato Negro e Identidade Cultural em Ascensão
O artesanato no estado paulista possui uma forte base na população negra, conforme corroboram os números. O Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB) aponta que 62% dos artistas manuais cadastrados são pretos ou pardos. Essa maioria reflete a conexão histórica e cultural entre o artesanato e a identidade afro-brasileira.
Em Bertioga, no litoral, as irmãs Rosemeri Camilo de Sousa, 58 anos, e Rosângela, 57 anos, são exemplos desse movimento. Elas mantêm uma marca de costura criativa que se dedica a bordados inspirados na Mata Atlântica.
“Cada vez mais pessoas negras estão conquistando espaço no artesanato. Essa arte mostra a identidade de um lugar e reforça que podemos ocupar qualquer espaço que quisermos”, destaca Rosemeri Camilo de Sousa.
O trabalho das irmãs une a sustentabilidade com a valorização da identidade local, transformando o artesanato em uma forma de expressão e subsistência.
A Busca por Valorização e Formalização
Apesar da expressiva presença, artistas negros frequentemente enfrentam desafios para formalizar e valorizar seu trabalho. Luiz Poeira, capoeirista e artista manual da capital, ressalta a importância do apoio institucional:
“Para a pessoa negra, o caminho é ainda mais difícil. O artesanato negro muitas vezes não tem valorização e acaba sendo associado à informalidade. Uma iniciativa como essa nos fortalece e mostra que o nosso trabalho tem valor”, afirma.
O artesão Ivo Dantas, de Embu-Guaçu, na região metropolitana, que utiliza placas de metal galvanizadas em suas criações, compartilha dessa visão.
“Acho ótimo o que estão fazendo, porque nós, artesãos, muitas vezes ficamos esquecidos. O programa dá chance para todos melhorarem sua arte e próprio negócio,” diz Dantas, destacando o papel da iniciativa na promoção da igualdade.
O Programa Empreendedor Artesão: Fomento e Visibilidade
O programa Empreendedor Artesão é uma das principais ações da SDE voltadas para o fortalecimento do trabalho manual e a ampliação das oportunidades de geração de renda em todo o estado.
Benefícios Chave do Programa
- Integração Produtiva: Promove a articulação entre os artesãos e o mercado.
- Desenvolvimento Econômico Local: Impulsiona a economia nas comunidades onde a arte manual é produzida.
- Valorização: Formaliza e apoia tanto artesãos formais quanto informais.
- Qualificação e Visibilidade: O programa oferece apoio e qualificação, além de ampliar a visibilidade de artistas que são guardiões da cultura popular.
José Geraldo dos Santos, artesão de São Paulo que produz cestas com materiais recicláveis, vê no programa uma chance de mudar a percepção sobre seu trabalho.
“Nosso trabalho é bom, mas pouco visto. O programa está dando visibilidade para quem tenta preservar o meio ambiente e a nossa história,” afirma Santos.
Ao transformar o artesanato em “oportunidades reais de negócio e empreendedorismo,” a SDE, por meio da iniciativa, busca garantir que a riqueza cultural da produção manual seja reconhecida economicamente, fortalecendo a autonomia financeira dos empreendedores negros. A SDE reforça seu papel de fomento ao empreendedorismo, que inclui linhas de microcréditos do Banco do Povo e programas de capacitação profissional, trabalhando em conjunto com instituições como a InvestSP e o Desenvolve SP.
