“Se eu não parasse nessa tentativa, não ia mais tentar”, essa foi a decisão da moradora de Diadema Nair de Oliveira David quando iniciou o Grupo de Cessação do Tabagismo da Unidade Básica de Saúde (UBS) São José que leva o nome do bairro. Para ela, que fumou por 36 anos e teve interrupções sem sucesso, a equipe do serviço foi um apoio fundamental nessa caminhada. O grupo passou por mudanças e, em 2024, uma nova metodologia trouxe estratégias para ampliar a adesão e tornar mais efetivo o processo de largar o vício.
A primeira delas foi em relação ao horário. “Como o grupo é realizado às 8h, facilita para quem precisa trabalhar ou tem outros compromissos no período da manhã”, explica a farmacêutica Leila Furlan. O calendário de encontros é estabelecido previamente, uma mensagem de whatsapp é enviada dias antes para lembrar o compromisso e faltantes são contatados para atendimento individual.
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Os encontros são realizados com uma equipe composta por dentista, enfermeira e farmacêutica. Durante as reuniões, são realizadas rodas de conversa, dinâmicas, discussões, aconselhamentos, avaliação clínica com os profissionais da saúde, terapia medicamentosa quando necessário e avaliação odontológica.
“A equipe está disponível na UBS para qualquer imprevisto ou dúvida. O tabagista é acolhido e acompanhado em todos os momentos e, se necessário, é direcionado à equipe E-multi para cuidados compartilhados e um tratamento completo com nutricionista, médico, psicóloga e educadora física”, ressaltou Leila.
Outra mudança foi a introdução de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), como auriculoterapia focada no protocolo de tabagismo, meditação sob técnica de mindfullness, musicoterapia, aromaterapia, fitoterapia (chás para ansiedade, plantas para hálito, sucos calmantes) e técnicas de respiração. A dentista Adriana Cristina Cury Pedroso explica que a fissura, desejo incontrolável de fumar, dura cerca de cinco minutos e a pessoa precisa ter em mente que vai passar. “Apresentamos opções que ajudam nesse momento mais crítico como comer castanhas, mascar cravos ou chiclete sem açúcar, tomar água gelada, escovar os dentes”, afirma.
Também são utilizados materiais de apoio do Ministério da Saúde (MS), Instituto Nacional do Câncer (Inca) e da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES). Além de entender os mecanismos do fumo e como isso impacta a saúde, o grupo evidencia os benefícios de parar de fumar, como se preparar e prevenir recaídas. No primeiro mês, os encontros são semanais, alterando para quinzenais, no segundo mês, e mensais até o final do processo.
Dia D
Já no segundo encontro, os participantes definem uma data, o Dia D, para cessar totalmente o cigarro. “Precisa ser dentro do primeiro mês. É um dia sem pressão, cobrança ou sofrimento, mas sim de alegria, em que a pessoa vai ter poder de sua vida novamente. Não é sobre perder algo, mas sobre ganhar mais ar nos pulmões, saborear um café com um gosto mais intenso, perceber que o corpo vai se ajustando a uma nova fase com mais qualidade de vida”, esclarece a dentista Adriana Cristina Cury Pedroso.
A nova metodologia permitiu maior adesão dos participantes e casos de cessação completa de tabagismo após um ano de início do grupo. Dos nove participantes que iniciaram o grupo, quatro permaneceram até o final e pararam de fumar. “Além disso, a linguagem empática, o vínculo entre facilitadores do grupo e pacientes e as trocas de experiências entre os participantes que enfrentam o mesmo desafio foram primordiais na alta taxa de sucesso, oferecendo suporte psicológico e social, ajudando a enfrentar gatilhos e a lidar com a abstinência”, pontuou a farmacêutica Leila.
“A recaída não deve ser encarada como fracasso ou motivo para desistir de todo o processo. Estamos aqui para apoiar e não julgar, para orientar a melhor forma de trabalhar esses gatilhos, porque são diferentes de pessoa para pessoa: pode ser desde tomar café a uma saída com os amigos”, esclarece Adriana. Para Nair, o momento de desafio é quando fica nervosa. “Não foi fácil, mas tenho que ser forte para continuar a caminhada”.
Há mais de um ano sem fumar, Nair comemora as conquistas de uma vida mais saudável. “Parei por mim e para mim, havia o incômodo do cheiro de cigarro e quando ficava com tosse, era mais difícil a cura. Hoje consigo sentir o perfume de sabonete e tenho muito a agradecer ao grupo e à minha persistência”.
Modelo
O tabagismo é uma das principais causas de doenças crônicas não transmissíveis. “Ao oferecer apoio para que os fumantes deixem o tabaco, o grupo ajuda a reduzir a prevalência de doenças como o câncer, problemas cardiovasculares e respiratórios, o que resulta em menores custos para o SUS no tratamento dessas condições e promove o aumento da expectativa de vida”, afirma a farmacêutica.
A ação foi apresentada, sob o título de “Inovação no Combate ao Tabagismo: uma Experiência Exitosa na UBS Vila São José”, na 21ª Mostra de Experiências Exitosas dos Municípios do 38º Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (COSEMS/SP), realizado entre os dias 09 e 11 de abril, em Santos. Mais informações sobre o congresso em https://portal.diadema.sp.gov.br/campanha-crianca-nao-trabalha-e-premiada-como-experiencia-exitosa-em-congresso-estadual/.
Apoio
O primeiro grupo que adotou a nova metodologia ocorreu entre fevereiro de 2024 a fevereiro deste ano. Outra turma teve início em outubro de 2024 com previsão de término em outubro de 2025 e, de 12 participantes, três já pararam de fumar.
O próximo grupo terá início em 27 de maio, às 8h30. Antes de iniciar, os participantes passam por consulta farmacêutica e recebem as informações básicas de todo o processo.
Atualmente, mais de 120 moradores participam de oito Grupos de Cessação do Tabagismo em UBS. Das 20 Unidades Básicas, 18 disponibilizam Grupos de Cessação do Tabagismo. Caso o munícipe tenha interesse, deve procurar a UBS de referência.
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Fonte: PMD | Texto: Renata Nascimento/PMD
Foto: André Baldini