O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu. Considerado um ícone da esquerda latino-americana, Mujica lutava contra um câncer no esôfago, diagnosticado em abril de 2023, e estava em estágio terminal. A morte foi confirmada por Yamandú Orsi, atual presidente do Uruguai e aliado político de Mujica.
“Com profunda dor comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência, liderança. Vamos sentir muito sua falta, velho querido! Obrigado por tudo que nos deste e por teu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi nas redes sociais.
Mujica completaria 90 anos no próximo dia 20 de maio. Ele vivia em uma chácara nos arredores de Montevidéu e, nos últimos meses, levava uma vida reclusa. Sua esposa, Lucia Topolansky, informou ao jornal La Diaria que o ex-presidente recebia cuidados paliativos em casa. Devido à condição de saúde, ele não votou nas eleições regionais realizadas no último domingo (11).
Simplicidade e legado político
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica ficou conhecido mundialmente como o “presidente mais pobre do mundo”, por seu estilo de vida simples, dirigir um fusca antigo e doar boa parte do salário para projetos sociais. Ganhou notoriedade por suas reflexões políticas com forte viés filosófico.
“Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei sentido à minha vida”, declarou Mujica ao jornal El País, em novembro de 2024.
Durante seu governo, promoveu leis progressistas, como a descriminalização do aborto, a legalização da maconha e o casamento igualitário. O país também registrou redução significativa da pobreza — de 39% em 2004 para 11,5% em 2015, segundo dados citados pelo historiador Rafael Nascimento, da Universidade de Brasília (UnB).
“Mujica é celebrado não apenas por suas realizações políticas, mas por sua ética de vida, por sua simplicidade e por sua luta por justiça social”, afirmou o especialista.
Militância, prisão e resistência
Nascido em 1935, Mujica foi um dos fundadores do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, grupo guerrilheiro urbano que atuou nas décadas de 1960 e 1970 contra a ditadura uruguaia. Ele passou quase 14 anos na prisão, foi ferido com seis tiros e torturado por anos em solitária, como retratado no filme Uma Noite de 12 Anos.
“Se você pegar uma formiga e colocá-la perto do ouvido, vai ouvi-la gritar. Isso eu aprendi no calabouço”, revelou em entrevista ao jornalista Emir Sader.
Após a redemocratização, Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular, integrante da Frente Ampla, coalizão de esquerda que o elegeu senador, ministro e, posteriormente, presidente. Ele foi novamente eleito ao Senado em 2019, mas renunciou em 2020 para evitar o contágio da Covid-19. “Há uma hora de chegar e uma hora de partir na vida”, disse à época.
Defensor da integração latino-americana
Mujica sempre defendeu a integração dos países da América Latina. Para ele, a união regional era essencial diante de um cenário global dominado por potências econômicas.
“Ou nos integramos, ou não somos nada”, dizia o ex-presidente, que reforçava a importância de uma colaboração entre todos os latino-americanos, independentemente da ideologia de seus governos.
Em outubro de 2023, participou do lançamento da Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos, em Foz do Iguaçu (PR), onde voltou a criticar a herança colonial que dificultava o diálogo entre países da região.
Homenagem de Lula
Em dezembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou ao Uruguai para condecorar Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria brasileira destinada a personalidades estrangeiras.
“Essa medalha que eu estou entregando ao Pepe Mujica não é pelo fato de ele ter sido presidente do Uruguai. É pelo fato de ele ser quem é”, afirmou Lula, emocionado.
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*Com informações Agência Brasil