A Polícia Civil de São Paulo desmantelou, na manhã desta sexta-feira (10), uma fábrica clandestina que produzia e distribuía bebidas alcoólicas adulteradas com metanol em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O local era um dos principais alvos da operação deflagrada pela força-tarefa do Governo do Estado, criada para combater a contaminação por metanol em bebidas comercializadas em bares e distribuidoras.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP), os agentes chegaram ao endereço após investigarem a morte de Ricardo Lopes Mira, 54 anos, primeira vítima confirmada de intoxicação por bebida adulterada no estado. O empresário passou mal em 12 de setembro e morreu quatro dias depois, no Hospital Villa Lobos, na Mooca, zona leste da capital.
Durante as investigações, a polícia identificou o Torres Bar, na capital, como o local onde a vítima consumiu a bebida. No estabelecimento, foram apreendidas nove garrafas, das quais oito apresentaram metanol em concentrações que variavam de 14,6% a 45,1%, segundo laudos da perícia. O dono do bar confessou ter adquirido os produtos de uma distribuidora clandestina, a mesma que foi interditada nesta sexta-feira.
Segundo a investigação, a fábrica utilizava etanol comprado em postos de combustíveis para fabricar bebidas falsificadas. O etanol, porém, estava misturado a metanol, substância altamente tóxica e proibida para consumo humano. “O falsificador foi ao posto comprar etanol para falsificar a bebida, e o dono do posto vendeu etanol contaminado com metanol”, explicou o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, em coletiva.
De acordo com Derrite, a análise de 300 garrafas realizadas pela Polícia Científica mostrou que metade apresentava alto percentual de metanol. Durante a operação, uma mulher foi presa em flagrante por adulteração de bebidas. Seu marido, também envolvido no esquema, não foi localizado e já possuía antecedentes pelo mesmo tipo de crime.
A operação também se estendeu a São Caetano do Sul e à capital paulista, onde outros endereços ligados à quadrilha foram vistoriados. Ao todo, oito suspeitos foram encaminhados à delegacia para prestar depoimento. Garrafas, celulares e documentos foram apreendidos e encaminhados à perícia.
Até o momento, cinco pessoas morreram em São Paulo vítimas de intoxicação por bebidas contaminadas com metanol, e 23 casos foram confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP) — três a mais do que o balanço divulgado pelo Ministério da Saúde na última quarta-feira (8).
Gabinete de crise contra contaminação por metanol
O Governo do Estado de São Paulo instituiu no dia 30 de setembro um gabinete de crise para coordenar ações de combate à contaminação por metanol. A força-tarefa envolve as secretarias da Saúde, Segurança Pública, Fazenda e Planejamento, Justiça, Desenvolvimento Econômico e Comunicação, além das vigilâncias sanitárias municipais.
Entre as medidas estão a interdição cautelar de estabelecimentos suspeitos, o recolhimento de bebidas para análise laboratorial e a intensificação da fiscalização em postos de combustíveis e distribuidoras de bebidas.
“O que está acontecendo agora é uma crise aguda, com muitos casos e uma alta concentração de metanol nas bebidas. Nossa linha de investigação é clara: essas adulterações estão ligadas a etanol contaminado adquirido em postos de combustíveis. Não podemos permitir que isso continue”, reforçou Derrite.
A Polícia Civil segue com as investigações para identificar outros envolvidos e mapear a cadeia de produção e distribuição das bebidas falsificadas.
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Por: Odair Junior