Com a retomada das atividades no Legislativo, um dos principais desafios do governo federal é buscar aproximação com parlamentares conservadores da bancada evangélica. Segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, entre eles o escritor André Ítalo, essa relação pode ser estratégica, uma vez que o grupo tem histórico de apoio ao Executivo, especialmente em pautas econômicas.
Ítalo, autor do livro “A Bancada da Bíblia: uma história de conversões políticas”, explica que, independentemente do partido no poder, a bancada evangélica sempre manteve proximidade com o governo, buscando preservar interesses como a isenção tributária para igrejas.
Evolução da Bancada Evangélica
A relação entre evangélicos e governos anteriores remonta a Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, e se manteve nos mandatos de Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. No entanto, Ítalo avalia que a eleição de Bolsonaro representou um “divisor de águas”, pois, pela primeira vez, um governo de direita estabeleceu um vínculo de afinidade ideológica com a bancada evangélica.
Com o retorno de Lula ao poder, o grupo perdeu sua característica governista e adotou uma postura mais opositora. Atualmente, a bancada evangélica na Câmara conta com cerca de 90 a 100 deputados, enquanto no Senado o número varia entre 10 e 15 parlamentares.
A Bancada e Suas Diferenças Internas
O professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), destaca que a bancada evangélica não é homogênea. Entre os diferentes segmentos, a Igreja Universal do Reino de Deus se consolidou com uma estratégia política forte, sendo a base do Partido Republicanos, que atualmente preside a Câmara dos Deputados.
“O partido fez uma abertura para políticos não evangélicos, como é o caso do presidente da Câmara, Hugo Motta. Essa estratégia se mostrou muito acertada”, analisa Barreto.
No entanto, segundo o especialista, a bancada enfrenta desafios internos, pois enquanto parte dos seus representantes busca uma posição mais moderada, sua base eleitoral se tornou mais conservadora e politizada, limitando suas opções de alinhamento político.
Origem e Crescimento da Bancada Evangélica
O primeiro pastor eleito deputado federal no Brasil foi Levi Tavares, de São Paulo, com mandato entre 1967 e 1971. Porém, foi durante a Constituinte de 1986 que surgiu o conceito de bancada evangélica, motivado pelo temor de que o catolicismo voltasse a ser a religião oficial do Brasil.
Durante o regime militar, setores da Igreja Católica foram associados à oposição à ditadura e tinham proximidade com grupos de esquerda. Esse cenário fez com que igrejas evangélicas se aproximassem do campo conservador, elegendo 32 deputados na Constituinte.
Frente Parlamentar Evangélica e Estratégia Política
Embora a bancada da Bíblia reúna cerca de 90 deputados, a Frente Parlamentar Evangélica conta com 219 deputados e 26 senadores de diferentes partidos, incluindo siglas de centro e até de esquerda. Para ser criada, a frente precisa de um mínimo de 171 assinaturas, o que faz com que parlamentares não evangélicos também participem.
“Os deputados evangélicos são cerca de 90. Eles sozinhos não conseguem criar a frente. Então precisam da ajuda de deputados não evangélicos”, explica Ítalo.
A Frente Parlamentar Evangélica mantém uma estrutura organizada, com reuniões semanais para mapear pautas sensíveis aos evangélicos e coordenar a atuação de seus parlamentares. Atualmente, seu coordenador é o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM).
A Agência Brasil tentou contato com a assessoria da frente para comentar o trabalho do grupo, mas não obteve resposta.
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*Com informações: Agência Brasil