Cinthya Moura de Oliveira, 44, sempre teve vontade de fazer um curso na área da Moda. Moradora do bairro do Taboão, em Diadema, viu na abertura do curso de Costura Criativa no Centro Cultural Vladimir Herzog, no Campanário, uma oportunidade – e um desafio. Desafio porque Cinthya nasceu com uma malformação congênita chamada artrogripose, que diminui a mobilidade de seus membros inferiores e superiores. E em um curso que envolve desenhar, cortar, costurar, tirar medidas, ela sabia que poderia ter um pouco mais de dificuldade.
>>mais notícias: Diadema
“Deu um pouco de medo, mas eu fui assim mesmo,” confidenciou ela, sentada em sua cadeirinha motorizada. “Eu gosto de me desafiar, pois tudo exige muito das mãos, exige ficar em pé, mas o professor Chesller sempre me ajuda e acha uma maneira mais fácil de fazer o mesmo trabalho que as outras meninas.”
Raimunda Maria de Novaes, 72, do Jardim Ruyce, também faz a oficina de moda, só que no centro cultural do seu próprio bairro. E sua deficiência é ainda mais desafiadora: ela não tem um braço. O que não a impede de costurar. “Eu nunca tive medo de nada, eu sempre tento pra ver se eu consigo,” conta ela. “E eu amo o curso e o professor Chesller mais ainda, ele ensina muito bem a gente, tem paciência conosco, não tem nem o que falar. É nota mil.”
Chesller é o estilista Chesller Moreira, 43, que, além do Campanário e do Ruyce, também dá aulas no Centro Cultural Serraria, dentro do programa Ponto da Moda, da Secretaria Municipal de Cultura em parceria com a ong Cenários Futuros. “Só nos cursos de Moda, tenho 5 alunas com deficiência, das mais variadas. E isso é algo que a gente não tem como prever, só se adaptar. Eu converso com cada uma das meninas, identificamos juntos as dificuldades e eu adapto os exercícios para que elas consigam fazer junto com a classe. No caso da Cinthya, por exemplo, eu diminuo a velocidade da máquina de costura para que ela consiga acompanhar.”
E funciona? “Tá sendo maravilhoso, estou aprendendo muitas coisas novas e estou muito feliz,” afirmou a aluna. “Descobri também que, conforme eu vou exercitando minhas mãos para fazer os trabalhos, é como se fosse uma fisioterapia, está me ajudando muito.”
Por uma cidade inclusiva
Segundo Angelina Moreira de Souza, 33, do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, a cidade tem dezenas de pessoas com deficiência participando de oficinas culturais, de crianças e adolescentes com autismo a adultos com deficiências físicas, auditivas e visuais – principalmente na Biblioteca de Inclusão Nogueira, onde Angelina atua como bibliotecária. Mas são números muito pequenos ainda, considerando a estimativa de que cerca de 20 mil pessoas vivam com deficiência em Diadema, segundo o IBGE. “Esse número ainda não é o ideal pelo fato das pessoas ainda serem muito dependente de acompanhantes no dia a dia e pela cidade ainda não ser totalmente inclusiva, que é algo que o Conselho vem buscando melhorar a cada dia,” diz ela.
No último sábado (10), por exemplo, durante a Conferência Municipal de Cultura, em que a Angelina participou como uma das organizadoras, um dos temas discutidos foi a Acessibilidade Cultural nos diferentes segmentos artísticos da cidade. De lá, saíram propostas que vão além da obrigatoriedade exigida em editais de fomento, como o aumento da acessibilidade tanto em equipamentos quanto em eventos culturais. “Isso vai desde a parte da estrutura física e arquitetônica até a formação e capacitação dos profissionais na ponta para acolher PcDs,” explicou a conselheira. “A Cultura se faz com diferentes públicos e de diferentes formas e as pessoas se esquecem que um desses públicos são as pessoas com deficiência. Se a gente não está vendo essas pessoas nos parques, praças e centros culturais, isso é um problema. Porque elas existem.”
Cinthya assina embaixo. “É muito bom a prefeitura abraçar a pessoa com deficiência, porque a gente precisa de espaços para mostrar nossas habilidades e capacidades. Não é porque uma pessoa tem deficiência que ela tem que ficar em casa, sentada no sofá vendo televisão o dia todo, como eu ficava. Vir pra cá melhorou minha autoestima e mandou pra longe a depressão. Faz a gente se sentir viva. E valorizada. Mas pra isso é preciso acessibilidade.”
_________
Fonte: PMD
Foto: Mauro Pedroso