No Brasil, ainda não há registro de um produto de terapia avançada para o tratamento de feridas crônicas e queimaduras nos órgãos regulatórios de saúde. Uma startup de biotecnologia, sediada no Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, busca romper essa barreira e se tornar pioneira no país com um produto inédito.
A empresa desenvolveu, com apoio do PIPE/Fapesp, um biocurativo inteligente impresso em 3D, batizado de Mensencure, que utiliza células-tronco do cordão umbilical humano para promover a cicatrização de feridas complexas.
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Células vivas que atuam conforme a necessidade do tecido
Produzido com hidrogel e células mesenquimais, o biocurativo atua em todas as fases do processo cicatricial. Ele é capaz de detectar os sinais da lesão e liberar citocinas e fatores de crescimento, como as moléculas responsáveis pela imunomodulação, angiogênese (formação de vasos) e regeneração tecidual.
“Essas células presentes no biocurativo são muito potentes para favorecer o ambiente de regeneração de feridas e queimaduras. Além disso, não são rejeitadas. Uma única aplicação desse biocurativo resolve, de fato, o problema de pacientes que às vezes já usaram tudo o que há disponível no mercado e cuja ferida não cicatrizou”, afirma Carolina Caliari Oliveira, fundadora da empresa.
O processo de produção inclui a bioimpressão 3D, realizada com equipamento especializado que garante a precisão da estrutura do curativo e a manutenção da viabilidade celular.
Solução para lesões em diabéticos e escaras
Um dos principais focos do produto é o tratamento de lesões cutâneas em pacientes com diabetes tipo 1, grupo que enfrenta grandes dificuldades de cicatrização devido ao descontrole glicêmico.
“Sabemos que a pele é um tecido fabuloso, que cicatriza naturalmente, mas que há pessoas com patologias de base, como diabetes, nas quais esse processo é prejudicado. O biocurativo é destinado exatamente para esses pacientes com prejuízo na cicatrização, cujas feridas não fecham ou demoram, às vezes, meses e até mesmo anos para cicatrizar”, completa Oliveira.
Inicialmente, a aplicação será voltada a lesões por pressão, também conhecidas como escaras. A empresa trabalha atualmente para cumprir os requisitos exigidos pela Anvisa e iniciar os ensaios clínicos.
“Estamos exatamente nesse período crucial, trabalhando na produção tanto das células como do curativo de acordo com as Boas Práticas de Fabricação [BPF] a fim de obter a autorização da Anvisa para a realização de um estudo clínico”, diz a fundadora.
A startup tem a ambição de produzir os curativos em escala e comercializá-los diretamente, diferentemente de outras biotechs voltadas apenas à pesquisa.
“Diferentemente da maioria das biotechs, queremos ir ao mercado”, finaliza Carolina Oliveira.
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*Com informações: Agência SP