O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou neste domingo, 6 de julho, da primeira sessão plenária da Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS, chamada “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”. Ao discursar no evento realizado no Rio de Janeiro (RJ), Lula destacou o potencial do BRICS para a mediação e prevenção de conflitos no mundo.
Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século XXI, cabe ao BRICS contribuir para sua atualização. Sua representatividade e diversidade o torna uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos. Podemos lançar as bases de uma governança revigorada”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
“Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século XXI, cabe ao BRICS contribuir para sua atualização. Sua representatividade e diversidade o torna uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos. Podemos lançar as bases de uma governança revigorada”, ressaltou o presidente na abertura da sessão.
Lula defendeu que o Conselho de Segurança da ONU seja transformado, para torná-lo mais legítimo, representativo, eficaz e democrático. “Incluir novos membros permanentes da Ásia, da África e da América Latina e do Caribe é mais do que uma questão de justiça. É garantir a própria sobrevivência da ONU. Adiar esse processo torna o mundo mais instável e perigoso. Cada dia que passamos com uma estrutura internacional arcaica e excludente é um dia perdido para solucionar as graves crises que assolam a humanidade”.
A proposta de reforma apresentada pelo presidente leva em conta o cenário atual de crise no multilateralismo. “As reuniões do Conselho de Segurança da ONU reproduzem um enredo cujo desfecho todos conhecemos: perda de credibilidade e paralisia. Ultimamente sequer é consultado antes do início de ações bélicas. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais”, argumentou.
Em contraponto, Lula lembrou de situações pregressas em que a ONU teve atuação importante. “A organização foi central no processo de descolonização. A proibição do uso de armas biológicas e químicas é exemplo do que o compromisso com o multilateralismo pode alcançar. O sucesso de missões da ONU no Timor-Leste demonstra que é possível promover a paz e a estabilidade”, citou.
O BRICS se reúne, mais uma vez, no Brasil. Com quase metade da população mundial, somos responsáveis por 40% da riqueza produzida no planeta. Com a entrada de novos membros, estamos fortalecendo o Sul Global e ampliando a voz dos países emergentes.
Sob a presidência brasileira,… pic.twitter.com/kS6iWM58Ke
— Lula (@LulaOficial) July 6, 2025
ARMAS — O presidente também criticou o aumento dos investimentos em armamento. “A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política. É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, declarou.
A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política”
ALERTA — Outra preocupação manifestada pelo presidente foi com uma possível catástrofe nuclear. “Assim como ocorreu no passado com a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a instrumentalização dos trabalhos da Agência Internacional de Energia Atômica coloca em jogo a reputação de um órgão fundamental para a paz. O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano”, alertou.
CONFLITOS — Ainda em seu discurso, o presidente Lula reafirmou que o governo brasileiro repudia conflitos, como os que ocorrem na Faixa de Gaza, na Ucrânia e no Haiti. “A ideologia do ódio não pode ser associada a nenhuma religião ou nacionalidade. O Grupo de Amigos para a Paz, criado por China e Brasil e que conta com a participação de países do Sul Global, procura identificar possíveis caminhos para o fim das hostilidades”.
AGENDA — A discussão iniciada nesta manhã será aprofundada durante almoço de trabalho. Depois, haverá a adoção da Declaração da 17ª Reunião de Cúpula dos BRICS, seguida de cerimônia oficial de chegada dos Chefes de Estado e de Governo dos países parceiros e de engajamento externo. Posteriormente, será promovida a sessão plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, seguida da adoção da Declaração sobre Inteligência Artificial.
GRUPO — O BRICS é um agrupamento formado por 11 países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Serve como foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas.
REPRESENTATIVIDADE — Os países do BRICS representam 48% da população mundial, 36% do território do planeta, 40% do PIB global e 21,6% do comércio (TradeMap; Banco Mundial). A corrente de comércio do Brasil com o BRICS totalizou US$ 210 bilhões, representando 35% do total em 2024.
RELEVÂNCIA — O BRICS foi o destino de US$ 121 bilhões das exportações brasileiras, representando 36% do total exportado pelo Brasil em 2024 e foi a origem de US$ 88 bilhões das importações brasileiras, representando 34% do total importado pelo Brasil no mesmo ano (ComexStat). No ano anterior, os investimentos dos países do bloco no Brasil totalizaram cerca de US$ 51 bilhões (Banco Central).
BALANÇA COMERCIAL — De janeiro a junho de 2025, o intercâmbio entre o Brasil e países do BRICS foi de US$ 107,6 bilhões. As exportações brasileiras alcançaram US$ 59 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 48,5 bilhões — superávit de US$ 10,4 bilhões. A pauta de importações brasileiras é baseada, em grande parte, em óleos combustíveis de petróleo, adubos e fertilizantes químicos, embarcações e outras estruturas flutuantes. O Brasil exporta majoritariamente para o BRICS soja, óleos brutos de petróleo e minério de ferro, além de carne bovina, açúcares e celulose.
PRESIDÊNCIA — Como em mandatos anteriores (2010, 2014 e 2019), a presidência brasileira pretende contribuir para o avanço do diálogo e da concertação no BRICS em temas políticos e de segurança, econômico-financeiros, e relativos à sociedade civil. O Brasil segue buscando reformas no sistema de governança global, sempre em prol da maior participação dos países emergentes e em desenvolvimento e de maior legitimidade e eficiência das organizações internacionais existentes. Guiada pelo lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira em 2025 se concentra em duas prioridades: cooperação do Sul Global e parcerias para o desenvolvimento social, econômico e ambiental.
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Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
Foto: Ricardo Stuckert / PR