Com cerca de três centímetros de comprimento, o caranguejo-de-rio foi descoberto por acaso em 2015, no Parque Ecológico da Gruta de Santa Luzia, por um grupo de espeleólogos – pesquisadores de grutas e cavernas – que faziam um levantamento topográfico para estudo e proteção do local. Na época, os registros geográficos da Gruta eram bastante precários e precisavam de atualização. Na Gruta, existem seis nascentes do Rio Tamanduateí.
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A expedição reunia Ericson Cernawsky Igual e Carlos Eduardo Martins, do Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME), que indicaram a descoberta ao professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Sergio Bueno, um dos maiores especialistas em Aegla – lê-se égla -, que apresentou a nova espécie, única no planeta.
Foram anos de pesquisas morfológicas e genéticas até que, finalmente, em 3 outubro de 2025, a descoberta se transformou numa conquista das mais relevantes da biologia, com a publicação de um artigo científico na revista Zoological Studies sobre a Aegla tamanduateí, cujo indivíduo ainda que adulto era minúsculo. Na Bacia Hidrográfica do Rio Tietê, existem oito espécies de Aegla, incluindo a de Mauá, cujo nome homenageia o rio onde foi descoberta.
O Parque Ecológico da Gruta de Santa Luzia, assim como o Parque Ecológico Oswaldo Dias e o Parque da Juventude, constantemente recebem atividades de Educação Ambiental para os frequentadores, numa ação de conscientização ecossistêmica, para adultos e crianças, inclusive envolvendo todas as escolas do município. “Com esta descoberta tão importante para a humanidade, aumenta a responsabilidade do poder público e da população em garantir cada vez mais um espaço equilibrado e livre de poluição. Vamos implementar todos os esforços para que esta e outras espécies da fauna e flora estejam protegidas”, afirmou o secretário de Meio Ambiente, Reinaldo Soares de Araújo. Uma das primeiras ações com esta descoberta, será um trabalho informativo para os frequentadores do parque.
Ericson Igual explica que “a existência desta Aegla, que é um bioindicador bastante sensível, demonstra a qualidade ambiental em que ela se encontra, mas a sua sobrevivência depende totalmente da preservação local.” Segundo o espeleólogo, destaca-se a importância das cavernas em granito, que possui ecossistemas raros e pouco estudados, com uma imensa biodiversidade ameaçada pela expansão urbana e poluição.
O mapeamento que os espeleólogos realizam, atendendo à legislação brasileira, possibilita, inclusive, que cavernas e grutas estejam protegidas da possível exploração imobiliária. “Se não existisse esse parque e o crescimento urbano avançasse na nascente, muito provavelmente a gente não teria mais essa Aegla, que já tem uma população muito pequena de indivíduos. Posso dizer que é um milagre de Santa Luzia”, afirmou Ericson. O “cidadão-cientista”, como Ericson se denomina, explicou que o ambiente de cavernas é muito sensível e sujeito a variações de temperatura, que pode ser afetado pelas mudanças climáticas. E isso pode inviabilizar a espécie.
Fonte: PMM
