Evento realizado nesta quinta-feira (17) homenageou a psiquiatra Nise da Silveira
O Centro de Santo André voltou quase 90 anos na história nesta quinta-feira (17) de manhã. O clima dos anos 30 tomou a concha acústica da Praça do Carmo, que recebeu o Mental Fashion Day 2018. O principal evento da rede de saúde mental da cidade homenageou nesta edição a psiquiatra Nise da Silveira, que naquela época desenvolvia trabalho revolucionário no tratamento terapêutico, indo na contramão do regime manicomial. A alagoana foi pioneira ao introduzir os animais como co-terapeutas e a implantar a arteterapia, visão que hoje norteia projetos como o das oficinas oferecidas nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da cidade.
Pouco antes de subir ao palco, na Casa da Palavra Mário Quintana, moças e senhoras se maquiavam, vestidas com saias longas e chapéus, enquanto em outra sala, os rapazes e senhores, ajeitando os blazeres, conversavam para passar o tempo. Na preparação dos modelos, psicólogos e terapeutas ocupacionais fizeram a vez dos maquiadores e figurinistas, familiares davam apoio à organização e usuários se dividiam entre a apresentação do desfile, cobertura fotográfica e a função de modelo. Esse desempenho de multitarefas não aconteceu apenas na data do Mental Fashion Day, mas desde a sua preparação. O evento integra os profissionais e usuários de todos os CAPS da cidade, desde a confecção e customização das peças, realizada dentro das oficinas dos equipamentos, até os ensaios e produção do cenário.
Foi por esse acolhimento que a dona de casa Luciene Pavani, de 42 anos, se tornou mais participativa nas atividades do serviço. Essa foi a primeira vez que a moradora do bairro Bangu desfilou no evento. Luciene é mãe da adolescente Maiara Pavani, de 15 anos, que faz tratamento e participa das oficinas no CAPS Infantojuvenil. “Antes dela começar a utilizar o serviço eu não tinha essa visão. Você começa a ampliar seu pensamento quando você vê esse trabalho, tem contato com as famílias. Até para aqueles que tem um grau de comprometimento maior, desfilar é uma conquista. Eu sou apaixonada pelo CAPS, eu abracei essa causa”, comenta a mãe.
Na abertura do desfile, a coordenadora do CAPS III Jardim, Paula Taleikis, caracterizada de Nise da Silveira, declamou um texto representando a psiquiatra. Entre as palavras discursadas, a personagem fez um alerta: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata”.
O usuário do CAPS Vila Vitória, Rivaldo da Silva, de 41 anos, sabe bem disso e com toda simpatia, foge à chatice. Com descontração, o usuário conta teve que fazer uma escolha difícil para participar do Mental Fashion Day, isso porque toda quinta-feira ele participa da oficina de futebol, sua paixão. Corintiano roxo, segundo ele, escolheu o desfile “porque acontece uma vez por ano e eu gosto de me reunir com o pessoal aqui”.
Ao final da cerimônia, um grupo de usuários subiu ao palco para tocar e cantar. A vocalista, caracterizada de Dona Ivone Lara, sambista falecida neste ano, entoou a canção com o refrão que sintetiza o trabalho desenvolvido na rede: saúde não se vende e loucura não se prende.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município é composta dos seguintes pontos de atenção: três CAPS tipo III (24 horas); um CAPS III AD (Álcool e outras drogas); um CAPS Infantojuvenil. Para reabilitação psicossocial há duas repúblicas terapêuticas (unidades de acolhimento, uma para adulto e outra para jovens de acordo com Projeto Terapêutico Singular vinculados ao CAPS III AD); um Núcleo de Projetos Especiais (NUPE), que realiza atividades voltadas a geração de trabalho e renda; o Consultório na Rua (CNR), que realiza atendimento itinerante à população de rua e o CAPS itinerante, uma equipe mista dos CAPS AD, Vila Vitória, Infantil e CNR, que realiza atendimentos em Paranapiacaba e Parque Andreense, com objetivo de promover acesso à Saúde. Além disso, a cidade conta com sete residências terapêuticas.