A partir desta segunda-feira (17), estudantes do ensino fundamental e médio em todo o país devem se adaptar a uma nova realidade escolar. Com a entrada em vigor da Lei nº 15.100/2025, fica proibido o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante as aulas, recreios e intervalos, para todas as etapas da educação básica.
A medida impacta cerca de 47 milhões de alunos e divide opiniões entre estudantes, professores e especialistas. Enquanto muitos acreditam que a proibição pode melhorar a concentração e o convívio social, outros defendem que o uso do celular poderia ser melhor regulado dentro do ambiente escolar.
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Impacto entre os estudantes: menos distração e mais interação
Para muitos alunos, a mudança exige um novo comportamento no dia a dia escolar. Danilo Cabral, de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio no Colégio Galois, em Brasília, reconhece que a lei pode trazer benefícios:
“Para prestar atenção nas aulas, a gente não pode mexer no celular. Vai ser uma questão de adaptação, mas acho que será muito benéfico.”
Já Joana Chiaretto, também de 16 anos, destaca um aspecto positivo da proibição: o retorno das interações presenciais.
“Antes, todo mundo ficava no próprio celular, sem conversar. Agora vejo grupos jogando carta, conversando mais. A escola está muito mais animada.”
Professores e coordenadores apoiam a proibição
Os professores também percebem mudanças no aprendizado e no comportamento dos alunos. Para Victor Maciel, professor de biologia, a proibição está tornando as aulas mais produtivas:
“Os alunos estão mais focados, tiram dúvidas e perguntam mais, porque sabem que não terão tanta facilidade depois para conseguir aquele conteúdo.”
A coordenadora do ensino médio, Patrícia Belezia, lembra que a escola já enfrentava problemas com alunos utilizando celulares para jogos de aposta, como o famoso “jogo do tigrinho”. Para ela, a proibição cria um ambiente escolar mais seguro e igualitário.
A fundadora da escola, Dulcineia Marques, vê a medida como uma forma de reduzir diferenças sociais, já que o celular pode ser um marcador de desigualdades, assim como marcas de roupas e tênis.
Escolas públicas também observam melhorias
No Centro Educacional nº 11, em Ceilândia (DF), o diretor Francisco Gadelha notou uma redução nos casos de bullying e brigas desde a entrada em vigor da lei.
“No começo, eu era contra a proibição. Mas agora vejo como está sendo benéfico no comportamento dos alunos.”
A escola aproveitou a mudança para lançar um projeto pedagógico, utilizando o livro “A geração ansiosa”, do psicólogo social Jonathan Haidt, para incentivar reflexões sobre os efeitos da hiperconectividade.
Especialistas divergem sobre o impacto da lei
Apesar das melhorias apontadas por professores e alunos, alguns especialistas alertam para a necessidade de um uso consciente da tecnologia.
Para Luiz Fernando Dimarzio, analista pedagógico da Ctrl+Play, a proibição pode ser muito extrema.
“Será que não seria melhor definir momentos específicos para o uso do celular, como para pesquisas ou atividades pedagógicas?”
Já Victor Freitas Vicente, do Instituto Felipe Neto, acredita que a lei pode ser um passo importante, mas defende que seus efeitos sejam avaliados em pesquisas futuras.
Redes sociais e saúde mental dos jovens
Especialistas em psicologia apontam que o uso excessivo de redes sociais pode impactar a saúde mental dos adolescentes.
A professora Raquel Guzzo, da PUC-Campinas, lembra que redes sociais criam pressões sociais e padrões irreais, afetando a autoestima dos jovens.
“As redes são projetadas para maximizar o tempo dos usuários nelas. Isso pode gerar dependência, especialmente entre adolescentes.”
A presidenta do Conselho Regional de Psicologia do DF, Thessa Guimarães, reforça a necessidade de uma regulamentação das redes sociais, para proteger os jovens de conteúdos prejudiciais.
“Um celular é uma porta aberta para toda a produção humana, incluindo discursos de ódio e conteúdos de auto-lesão.”
E agora? O futuro da tecnologia nas escolas
A Lei nº 15.100/2025 ainda permite o uso de dispositivos eletrônicos para fins pedagógicos, conforme a orientação dos professores. No entanto, especialistas acreditam que a sociedade deve encontrar um equilíbrio entre o aprendizado digital e a redução dos impactos negativos da tecnologia na vida dos estudantes.
Enquanto isso, professores, alunos e famílias seguem se adaptando à nova rotina escolar, descobrindo como a ausência do celular pode transformar a experiência educacional e fortalecer as relações interpessoais dentro das escolas.
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*Com informações: Agência Brasil