Um estudo publicado na revista científica Nature Metabolism apresentou resultados promissores de um medicamento experimental contra a obesidade, chamado provisoriamente de SANA. Desenvolvido por cientistas do Institut Pasteur de Montevidéu em parceria com pesquisadores brasileiros, o fármaco atua diretamente no tecido adiposo, estimulando as células a gastar energia e produzir calor, processo conhecido como termogênese.
Em testes com animais, SANA foi eficaz tanto na prevenção do ganho de peso induzido por dieta rica em gordura quanto na redução de 20% da massa corporal em casos já instalados de obesidade. O composto também reverteu resistência à insulina, esteatose hepática e outras disfunções metabólicas.
Pesquisa brasileira contribui com descoberta de ação inédita no metabolismo
Segundo os autores, o SANA representa uma possível “first-in-class” — ou seja, a primeira substância de uma nova classe de medicamentos contra a obesidade. Diferente de outros termogênicos antigos, que afetam todo o corpo e podem causar riscos cardiovasculares, SANA atua de forma localizada nas mitocôndrias do tecido adiposo, sem interferir no sistema nervoso central ou digestivo, e não afeta o apetite.
A substância é um derivado do salicilato (composto da aspirina), modificado em laboratório. A equipe originalmente buscava criar um anti-inflamatório, mas os testes revelaram efeito inesperado sobre o metabolismo.
O mecanismo de ação inovador foi desvendado com a participação de nove pesquisadores brasileiros de instituições como USP, Unicamp e UFRJ, com apoio da Fapesp. Eles confirmaram que o SANA ativa a termogênese independentemente da proteína UCP1, usando o chamado “ciclo fútil da creatina” — processo metabólico que consome energia e gera calor de forma segura.
“Fizemos testes com camundongos geneticamente modificados para não expressar a UCP1 e vimos que mesmo assim o SANA promove a termogênese”, explicou o professor William Festuccia, da USP.
Primeiros testes clínicos mostram segurança e efeitos promissores em humanos
No ensaio clínico de fase 1, realizado com um pequeno grupo de voluntários obesos, os pesquisadores observaram perda de peso e melhora na glicemia. No entanto, o principal objetivo dessa fase era avaliar a segurança do composto, que se mostrou bem tolerado.
“Pretendemos iniciar ainda este ano o estudo de fase 2, que vai de fato testar a eficácia no tratamento da obesidade”, disse o coordenador da pesquisa, Carlos Escande, do Institut Pasteur de Montevidéu, à Agência Fapesp.
Outro destaque é a possibilidade de combinar o SANA com medicamentos já disponíveis, como os análogos de GLP-1, usados para controle de apetite e diabetes. Essa combinação pode evitar a perda de massa magra, um dos efeitos colaterais desses medicamentos, especialmente em pessoas idosas.
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*Com informações: Agência SP