Texto: Igor Santos
A Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, uma autarquia municipal e referência no ensino de direito na região do ABC , nos últimos dias deu mostras que o racismo no Brasil não é apenas cultural, mas parte das instituições. Nessa semana, entre Terça (03) e Quinta-feira (05), acontecerá a Semana Jur (semana dedicada à apresentação de workshops, palestras, painéis e artigos) sem nenhum palestrante negro entre os convidados pela coordenação do evento.
Diante de tal absurdo, foi articulada entre professores e alunos, uma palestra com o título ‘’O continente africano: Identidade’’, seguida de um painel sobre um ano de cotas na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Vem acontecendo, porém, sistematicamente um boicote por parte da direção e coordenação da Semana Jur. A única atividade com negros apenas consta no quadro geral de atividades, com pouquíssima divulgação comparando com as outras. A titulo de exemplo, foram feitas imagens para divulgação virtual e física, afixadas na internet e por toda a faculdade, com as atividades individualizadas, com a única exceção sendo a divulgação dessa palestra.
Quando representantes do Centro Acadêmico XX de Agosto (CAXXA), questionaram se seriam convidados palestrantes negras e negros, foram informados que não, sob a alegação que o critério a ser utilizado seria acadêmico, sendo sugerido que fosse enviado um projeto de encontro para discutir minorias, e ai sim os estudantes teriam oportunidade de sugerir integrantes.
Sobre pesquisadora do direito de família com recorte racial pela USP, foi perguntado a atualidade do tema e sua importância para a comunidade jurídica. Pergunta no mínimo estranha numa instituição que teve dois episódios de pichação racista em seus banheiros, um em 2015 e um ainda esse ano.
Fica no ar um questionamento: representatividade e excelência acadêmica são antagônicas? Em tempo, vale salientar que o palestrante negro convidado é Doutor pela Universite De Rennes – França, país que desde os anos 1970, vem adotando uma politica ampla de cotas, no acesso ao ensino superior e mercado de trabalho, para negros e demais imigrantes de suas ex-colônias.