Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, estão desenvolvendo um painel de biomarcadores para detectar precocemente a doença de Alzheimer por meio de testes de sangue. O projeto, apoiado pela Fapesp, também busca diferenciar o Alzheimer de outros tipos de demência, um dos grandes desafios atuais da neurologia.
O estudo tem como base a análise do genótipo de 500 voluntários brasileiros, com e sem a doença, e já identificou um avanço relevante: a proteína ADAM10, envolvida na prevenção da formação das placas beta-amiloide no cérebro, pode atuar como marcador prognóstico da doença.
“A ADAM10 é uma antiga candidata a biomarcador da doença de Alzheimer que ganhou destaque com os avanços de equipamentos ultrassensíveis. Agora conseguimos detectar essas moléculas em concentrações muito baixas no plasma sanguíneo”, explica a pesquisadora Márcia Regina Cominetti, do Laboratório de Biologia do Envelhecimento (Laben-UFSCar).
Diagnóstico antes das placas no cérebro
O grupo da UFSCar descobriu que pessoas com alterações genéticas no alelo E4 do gene APOE, relacionadas ao Alzheimer, também apresentaram níveis elevados de ADAM10 no sangue. No entanto, grande parte dessas moléculas estão em forma inativa, o que pode reduzir a ação protetora contra a formação das placas beta-amiloide, principal característica da doença.
Com base nisso, os cientistas desenvolveram um sensor que detecta os níveis de ADAM10 no sangue, e pode indicar quais pacientes com comprometimento cognitivo leve têm maior chance de evoluir para o Alzheimer.
“Com esse marcador, poderemos identificar com antecedência quem tem risco real de desenvolver a doença, antes mesmo do surgimento das placas no cérebro”, reforça Cominetti.
Inovação brasileira com diversidade genética
A iniciativa conta com uma parceria entre os departamentos de Química e Gerontologia da UFSCar e gerou um banco de dados genético inédito, que reflete a diversidade brasileira em termos de escolaridade, renda, qualidade de vida e variações genéticas.
“Criamos uma base que não existe em nenhum outro lugar do mundo. A maior parte dos estudos sobre Alzheimer é feita com populações do Norte Global. Nosso banco reflete uma realidade distinta e pode mudar a forma como o Alzheimer é compreendido”, finaliza Cominetti.
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*Com informações: Agência SP