Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, estão recrutando voluntários adultos para participar de um estudo sobre camuflagem social em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo é compreender como esses comportamentos compensatórios se manifestam na população brasileira e comparar os dados com pesquisas internacionais.
Camuflagem social pode gerar ansiedade e depressão em pessoas autistas
A camuflagem social envolve estratégias usadas por pessoas autistas para mascarar ou modificar comportamentos com o objetivo de se adaptar às normas sociais. Embora esse ajuste temporário ajude em algumas interações sociais, ele traz impactos negativos significativos à saúde mental, como destaca a psicóloga Tally L. Tafla, pesquisadora de pós-doutorado do Instituto de Psicologia da USP.
“A camuflagem é um importante fator de risco para problemas de saúde mental em pessoas autistas, além de predizer piores índices de qualidade de vida”, explica Tally.
A pesquisadora ressalta que a camuflagem não se resume a um único comportamento, mas a um conjunto de estratégias adotadas em diferentes situações sociais, especialmente quando determinados comportamentos não são considerados “adequados” pelo meio.
Pesquisa busca preencher lacuna nos dados brasileiros sobre o tema
Grande parte dos estudos sobre camuflagem social em pessoas com TEA foi realizada em países como Reino Unido e Austrália. Com a nova pesquisa, Tally pretende ampliar o entendimento sobre a realidade brasileira.
“Todos os estudos sobre camuflagem foram realizados em outros países, o que nos diz muito pouco sobre a população brasileira”, destaca.
Os voluntários interessados podem participar preenchendo um questionário on-line com 35 perguntas, que estará disponível até o dia 30 de junho. As respostas seguem uma escala de concordância, indo de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”.
Após a coleta de dados, a pesquisadora pretende validar a versão brasileira do Questionário de Camuflagem de Traços Autistas (CAT-Q) e compará-la com os dados britânicos. Uma das hipóteses é que o contexto cultural brasileiro possa exigir níveis mais altos de camuflagem social, devido às normas de interação social mais expansivas e abertas em comparação com o perfil mais reservado do Reino Unido.

Parentalidade também será investigada na pesquisa
Além de analisar o comportamento de camuflagem em geral, o estudo também vai explorar a relação entre parentalidade e camuflagem social. A pesquisadora destaca que mães e pais autistas, devido à frequência de interações sociais exigidas na criação dos filhos, podem apresentar níveis distintos de camuflagem.
“Queremos entender quais os principais contextos nos quais a camuflagem de mães e pais autistas ocorre para que ajustes e intervenções em saúde mental possam ser feitos da maneira mais personalizada possível”, afirma Tally.
Apesar de existirem relatos positivos sobre a parentalidade autista, o estudo também busca compreender os desafios enfrentados, como maior propensão a ansiedade, depressão e sentimentos de isolamento durante a maternidade.
Na fase seguinte da pesquisa, serão realizadas entrevistas específicas com mães e pais autistas para aprofundar a investigação.
Interessados em participar devem acessar o link da pesquisa: https://redcap.hc.fm.usp.br/surveys/?s=kTRKMHsrPyiyhFjr.